domingo, 26 de agosto de 2012

Teosofia: Conhecimento Divino(Deuses)

O QUE É A TEOSOFIA?

Helena P. Blavatsky


Uma das fundadoras da Sociedade Teosófica, autora de extensa obra literária sobre espiritualidade, religiões, simbolismo universal, etc.

(Artigo publicado por Helena Petrovna Blavatsky no primeiro número do "The Theosophist", em outubro de 1879, que acabara de fundar para ser o órgão oficial da Sociedade Teosófica)
         
            A pergunta tem sido formulada tantas vezes, e o assunto vem sendo de um modo geral tão mal interpretado que os editores de uma publicação devotada à exposição da Teosofia sentir-se-iam culpados se este primeiro número fosse publicado sem que chegassem a um perfeito entendimento com seus leitores. No entanto, nosso título abrange duas perguntas: O que a Sociedade Teosófica? E o que são os Teosofistas? Vamos rfespondê-las.
            Segundo os lexicógrafos, o termo Theosophia compõe-se de duas palavras gregas -Theos, “deus”, e Sophos, “sábio”. Até aí, muito bem. Mas, as explicações que dão a seguir estão muito longe de oferecer uma noção suficientemente clara sobre a Teosofia. Webster, de um modo muito original, define-a como sendo “uma pretensa comunicação com Deus e com os espíritos superiores, e a conseqüente conquista de um conhecimento superhumano tanto por processos físicos como pelas operações teúrgicas de certos platônicos antigos ou, ainda, pelos processos químicos dos filósofos alemães do fogo”.
            Essa definição, em última análise, não passa de uma pobre e irreverente explicação. Atribuir idéias dessa natureza a homens como Amônio Saccas, Plotino, Jâmblico, Porfírio, Proclo e outros, demonstra ou uma deformação intencional ou ignorância de Webster no tocante à Filosofia e aos objetivos dos maiores gênios da Escola Neoplatônica de Alexandria. Imputar àqueles e a quem tanto os coevos quanto a posteridade chamaram de “Theodidaktoi”- instruídos por Deus - a intenção de desenvolver sua percepção psicológica e espiritual por “processos físicos” eqüivale a apresentá-los como materialistas. E quanto à alusão final aos filósofos do fogo, é o mesmo que situá-los entre os nossos mais eminentes e modernos cientistas, aqueles em cujos lábios o Rev. James Martineau põe a seguinte fanfarronada: “A Matéria é tudo que desejamos; dêem-nos apenas átomos e nós explicaremos o Universo”.
            Vaughan, porém, oferece uma definição muito melhor e mais filosófica: “Um teosofista”- observa - “é aquele que propõe uma teoria de Deus ou das obras de Deus, que não pretende dispor de uma revelação mas, sim, de uma inspiração pessoal como base dessa teoria”. De acordo com essa opinião, todo grande pensador e filósofo, especialmente cada fundador de uma nova religião, de uma nova escola filosófica ou de uma seita, é necessariamente um teosofista. Portanto, Teosofia e Teosofistas sempre existiram desde que os primeiros lampejos do incipiente intelecto humano levaram o homem a procurar instintivamente os meios de expressar opiniões pessoais e independentes.
            Teosofistas já existiam antes da era cristã, muito embora os autores cristãos atribuam o desenvolvimento do sistema teosófico eclético aos primeiros anos do século III de nossa era. Diógenes Laércio assinala a existência da Teosofia numa época anterior à dinastia dos Ptolomeus; e cita como seu fundador um Hierofante egípcio chamado Pot-Amun, nome copta que designa um sacerdote consagrado a Amon, o deus da Sabedoria. A história, porém, mostra que ela foi revivida por Amônio Saccas, o fundador da Escola Neoplatônica de Alexandria. Ele e seus discípulos faziam-se chamar “Philaletéios”, ou amantes da verdade, enquanto eram chamados por outros de “Analogistas”, devido ao método de interpretar todas as lendas sagradas, os mitos simbólicos e os Mistérios por uma lei ou analogia ou correspondência segundo a qual todos os fatos ocorridos no mundo exterior eram encarados como a expressão de outras tantas operações e experiências da alma humana. Amônio Saccas tinha como ideal e objetivo reconciliar todas as seitas, todos os povos e nações sob uma fé comum - a crença num Poder Supremo, Eterno, Desconhecido e Inominado que o governa o Universo através de leis eternas e imutáveis. Seu objetivo consistia em experimentar um sistema de Teosofia que, de início, era essencialmente o mesmo em todos os países; induzir os homens a abandonarem suas lutas e querelas tornando-se unos em ideais como filhos da mesma mãe; purificar as velhas religiões corrompidas e falseadas de todas as impurezas do elemento humano, unificando-as e explicando-as sobre puros princípios filosóficos. Por isso, os sistemas Budista, Vedantino e Mago, ou Zoroastrino, eram ensinados na Escola Teosófica Eclética juntamente com todas as filosofias da Grécia. Por isso, também, aquela característica proeminentemente Budista e Hindu registrada entre os antigos teosofistas de Alexandria no tocante ao respeito devido aos pais e aos mais velhos; a afeição fraternal por toda a raça humana; e um sentimento compassivo até pelos animais irracionais. Ao mesmo tempo em que procuravam estabelecer um sistema de disciplina moral que incutia no povo a obrigação de viver segundo as leis dos respectivos países; purificar a mente pela busca e contemplação da única Verdade Absoluta; seu principal objetivo que, acreditava, conquistaria todos os demais, consistia em extrair dos diversos ensinamentos religiosos, como de um instrumento de muitas cordas, uma harmonia perfeita e melodiosa capaz de ecoar em todo coração verdadeiramente amante da verdade.
            Portanto, Teosofia é a arcaica Religião Sabedoria, a doutrina esotérica que já era conhecida em todo país pretensamente civilizado. Uma “Sabedoria” que todas as velhas escrituras mostram como emanação do princípio divino e cuja absoluta compreensão é tipificada por nomes como o do Buda hindu, o Nebo babilônico, o Thot de Menfis, o Hermes da Grécia, e ainda nas invocações de algumas deusas - Metis, Neitha, Athena, a Sophiagnóstica e, finalmente, nos Vedas, do verbo “saber”. Sob essa designação, todos os filósofos do oriente e Ocidente, os Hierofantes do velho Egito, os Rishis da Aryavarta, os “Theodidaktoi” da Grécia incluíam todo o conhecimento das coisas ocultas e essencialmente divinas. As séries secular e popular da Mercavah dos Rabinos hebreus eram, assim, designadas como sendo apenas o veículo, a capa externa que continha o conhecimento esotérico superior. Os Magos de Zoroastro eram instruídos e iniciados nas cavernas e lojas secretas da Bactriana; Os Hierofantes egípcios e gregos possuíam as suas aporrêtas, ou instruções secretas, durante as quais os Mystês se transformava num Epoptês - um Vidente.
            A idéia básica da Teosofia Eclética resumia-se na existência de uma Essência Suprema, Desconhecida e Incognoscível, porque - “Como pode alguém conhecer o conhecedor?”, como pergunta o Brihadaranyaka Upanishad. Seu sistema caracterizava-se por três postulados perfeitamente distintos: a teoria da Essência acima mencionada; a doutrina da alma humana - emanação daquela e, portanto, da mesma natureza; e sua teurgia. Foi esta última ciência que levou os Neoplatônicos a serem tão mal interpretados nesta nossa era de Ciência materialista. Sendo a Teurgia essencialmente a arte de aplicar os poderes divinos do homem ao domínio das forças cegas da natureza, seus adeptos foram inicialmente chamados de mágicos - corrupção da palavra “Magh”, que significa sábio ou erudito - e ridicularizados se sorrissem a idéia do fonógrafo ou do telégrafo. Os que são ridicularizados e acoimados de “infiéis” de uma geração geralmente se transformam nos ‘sábios e santos’ da geração seguinte.
            No tocante à Essência Divina e à natureza da alma e do espírito, a moderna Teosofia acredita, hoje, nas mesmas coisas em que acreditava a Teosofia do passado. O popular Diu das nações arianas era idêntico ao Jahve dos samaritanos, ao Tiu ou “Tuisto” dos nórdicos, ao Duw dos bretões, e ao Zeus dos trácios. Quanto à Essência Absoluta, o Uno e o Todo, se aceitarmos o que dizem a respeito o Pitagorismo grego, o Kabalismo caldáico ou a Filosofia Ariana, tudo isso levará a um resultado único e igual. A Mônada Primeva do sistema pitagórico que se retira no interior da obscuridade e é a própria Obscuridade (para o intelecto humano) era apresentada como base de todas as coisas; e podemos encontrar a mesma idéia em toda a sua integridade no sistema filosófico de Leibnitz e Espinosa. Portanto, quer um Teosofista concorde com a Kabala, que referindo-se a En-Soph pergunta: “Então, quem pode compreendê-la, uma vez que Ela não tem forma e Não existe?” ou, recordando este magnífico hino do Rig-Veda, pergunta:
            "Quem sabe de onde surge essa grande criação? Se sua vontade criou ou permaneceu muda. Ele sabe - ou, talvez, nem Ele mesmo saiba”.
            ou ainda, aceita a concepção vedantina de Bhrama, que nos Upanishads é representado como “sem vida, sem mente, puro”, inconsciente, uma vez que Bhrama é a “Consciência Absoluta”. Ou, finalmente, alinhando-se entre os Svâbhâvikas do Nepal sustenta que nada existe a não ser ‘Svabhavat”(substância ou natureza) que existe por si mesma sem ter nenhum criador - qualquer dessas concepções só pode levar à Teosofia pura e absoluta. A essa mesma Teosofia que induziu homens como Hegel, Fichte e Espinoza a retomarem o trabalho dos velhos filósofos gregos e a especular sobre a Substância Una - a Divindade, o Todo Divino oriundo da Sabedoria Divina - incompreensível, desconhecido einominável - por intermédio de qualquer filosofia religiosa antiga ou moderna, com exceção do Cristianismo e do Islamismo. Consequentemente, o Teosofista, apegando-se à uma teoria da Divindade que “não tem revelação mas, sim, uma inspiração pessoal como base”, pode aceitar qualquer das definições acima ou pertencer a qualquer dessas religiões e, no entanto, permanecer estritamente dentro dos limites da Teosofia. Porque Teosofia é crença na Divindade como o TODO, fonte de toda existência, o Infinito que não pode ser nem compreendido nem conhecido, pois somente o Universo A revela, ou, como outros preferem dizer, O revela, atribuindo sexo àquilo que uma vez antropomoforfizado constitui umablasfêmia. Na verdade, a Teosofia afasta-se da materialização brutal; prefere acreditar que de uma eternidade recolhida no interior da mesma o Espírito da Divindade não deseja nem cria; mas que, da resplandecência infinita e onipresente tudo procede do Grande Centro, e o que produz todas as coisas visíveis e invisíveis é apenas um Raio que contém em si mesmo o poder gerador e criador que, por sua vez, produz aquilo a que os gregos chamavamMacrocosmo, os kabalistas Tikkun, ou Adão Cadmon - o homem arquétipo - e os arianosPurusha, o Brahman manifestado ou o Macho Divino. A Teosofia acredita igualmente naAnastasis ou existência contínua, e na transmigração (evolução) ou numa série de transformações da alma que pode ser defendida e explicada pelos mais rígidos princípios filosóficos; e faz somente uma distinção entre Paramâtma (alma suprema, transcendental) eJivâtma (alma animal ou consciente) dos Vedantinos.
            Para definir completamente a Teosofia devemos considerá-la sob todos os seus aspectos. O mundo interior não permaneceu oculto aos olhos de todos por uma treva impenetrável. Através da intuição superior adquirida pela Theosophia - ou conhecimento de Deus - que transporta a mente do mundo da forma ao do espírito sem forma, o homem, às vezes, conseguiu em todas as épocas e em todos os países, perceber coisas existentes no mundo invisível. Daí o “Samadhi”, ou Dyan Yog Samadhi dos ascetas hindus; a Daimonion-photi, ou iluminação espiritual dos Neoplatônicos; a “confabulação sideral das almas”, dos Rosa Cruzes ou filósofos do fogo; e até mesmo o transe estático dos místicos e dos modernos mesmeristas e espíritas são idênticos em natureza, embora diferentes em manifestação. A procura do “Ego” divino do homem, tão freqüentemente e tão errrôneamente interpretado como um Deus pessoal, sempre foi o objetivo de todos os místicos, e a crença na sua possibilidade parece coeva com a gênese da humanidade - cada povo dando-lhe um nome diferente. Assim, Platão e Plotino chamam de “Trabalho Noético” àquilo e a que os Yoguins e os Srotriya dão o nome de Vidya. “Pela reflexão, autoconhecimento e disciplina intelectual a alma pode ser transportada à visão da verdade eterna, da bondade e da beleza - isto é, à Visão de Deus - e isso é a “epoptéia”- afirmavam os gregos.
            “Unir a alma individual à Alma Universal” - diz Porfírio - “exige uma mente inteiramente pura. Pela autocontemplação, castidade perfeita e pureza corporal podemos aproximarmo-nos d’Ela, e receber, nesse estado, o verdadeiro conhecimento e uma visão maravilhosa”. E Swami Dayânand Saraswati, que nunca leu Porfírio nem qualquer dos autores gregos mas é um profundo conhecedor dos Vedas, afirma no seu Veda-Bâshya(upâsâna prakara ank. 9): “Para conquistar Disksha (as iniciações superiores) e Yog, o homem precisa agir segundo as regras... A alma humana pode realizar as maiores maravilhas pelo conhecimento do Espírito Universal (ou Deus) e identificar-se com as propriedades e qualidades (ocultas) de todas as coisas do Universo. Um ser humano (um Dikshita ou iniciado) pode, assim, adquirir o poder de ver e ouvir a grandes distâncias”. Finalmente, Alfred R. Wallace, que além de espiritualista é reconhecido como um grande naturalista, afirma com corajosa candura: “É somente o espírito que sente, percebe e pensa - que adquire conhecimento, argumenta e aspira... e não raro surgem indivíduos constituídos de tal forma que o espírito pode perceber independentemente dos órgãos físicos dos sentidos, ou podem, talvez, abandonar o corpo total ou parcialmente por algum tempo e a ele regressar novamente... o espírito... comunica-se com o espírito mais facilmente do que com a matéria”. Agora podemos verificar, após milhares de anos decorridos entre a era dos Ginosofistas e a nossa era altamente civilizada e apesar, ou talvez exatamente por isso, como essa iluminação derrama sua luz radiosa sobre os reinos psicológicos e físicos da Natureza, sobre os milhões que hoje acreditam, de modos diferentes, nos mesmos poderes espirituais aceitos pelos Ioguins e Pitágoras há quase três mil anos. Assim, enquanto o místico ariano pretende possuir o poder de resolver todos os problemas da vida e da morte desde que tenha conquistado o poder de agir independentemente do próprio corpo através deAtman - o “ego” ou “alma”; e enquanto os antigos gregos buscavam a Atmu - o Oculto, ou a Alma-Deus do homem, com o auxílio do espelho simbólico dos Mistérios Thesmophóricos; - da mesma forma os espíritas de hoje acreditam na faculdade que possuem os espíritos ou as almas dos desencarnados de se comunicarem visível e tangivelmente com os entes queridos da terra. E todos eles, Ioguins arianos, filósofos gregos e espíritas modernos sustentam essa possibilidade baseados em que a alma corporificada e seu nunca corporificado espírito - o verdadeiro ego - não estão serparados da Alma Universal nem dos outros espíritos do espaço a não ser pela diferenciação das respectivas qualidades, uma vez que na expansão ilimitada do Universo não pode existir nenhuma limitação. E quando removida essa diferença - seguindo os gregos e arianos pela libertação temporária da Alma aprisionada, e de acordo com os espíritas modernos pela mediunidade - é possível essa união entre os espíritos corporificados e os desencarnados. É por isso que os Ioguins Patanjalis e, seguindo suas pegadas, Plotino, Porfírio e outros Neoplatônicos afirmaram que durante suas horas de êxtase permaneceram unidos, ou melhor, tornaram-se unos com Deus por diversas vezes no decorrer de suas vidas. Esta idéia, errada como pode parecer na sua aplicação ao Espírito Universal, foi e ainda é sustentada por muitos dos grandes filósofos para que possa ser desprezada como inteiramente quimérica. No caso dos “Theodidaktoi”, o único ponto controverso, a mancha negra dessa filosofia de extremo misticismo foi sua pretensão de incluir o que é simplesmente a iluminação estática sob o domínio da percepção sensória. No caso dos Ioguins, que se diziam capazes de ver Ishvara “face a face, essa pretensão foi cabalmente desmentida pelo lógica severa de Kapila. E quando a idêntica presunção sustentada por seus seguidores gregos, por grande número de místicos cristãos e, finalmente, pelos dois últimos pretensos “Videntes de Deus” dos derradeiros cem anos - Jacob Boehme e Swendenborg - tal pretensão seria e deveria ser filosófica e logicamente discutida se alguns dos nossos grandes homens de ciência que são espíritas tivessem demonstrado mais interesse pela filosofia do que pelo mero fenomenalismo registrado no Espiritismo.
            Os Teosofistas alexandrinos dividiam-se em neófitos, iniciados e mestres, ou hierofantes; e suas regras foram copiadas dos antigos Mistérios de Orfeu que, segundo Heródoto, foi buscá-los na Índia. Amônio Saccas obrigava seus discípulos mediante juramento a não revelar seus ensinamentos superiores exceto aos que fossem comprovada e absolutamente dignos e iniciados que tivessem aprendido a encarar os deuses, anjos, e os demônios de outros povos de conformidade com a “hypnoia” esotérica, ou significado interno. “Os deuses existem, mas não são o que a hoi poloi, a massa ignorante, supõe que sejam” - afirma Epicuro, acrescentando: “Não é ateu aquele que nega a existência dos deuses adorados pela multidão mas, sim os que atribuem a esses deuses as opiniões da multidão”. Por sua vez, Aristóteles declara que, “da Essência Divina que interpenetra todo o mundo da natureza o que chamam de deuses são simplesmente os princípios originais”.
            Plotino, discípulo do “Theodidaktos”Amônio Saccas, diz-nos que o segredo da “Gnose”, ou o conhecimento da Teosofia, abrande três etapas: - opinião, ciência eiluminação. “O meio ou instrumento da primeira é o sentido, ou percepção; da segunda, a dialética; da terceira, a intuição; A Razão está subordinada a esta última; é o conhecimento absoluto fundado na identificação da mente com o objeto conhecido”. A teosofia é, por assim dizer, a ciência exata da Psicologia; mantém-se relativamente à mediunidade natural não cultivada da mesma forma que os conhecimentos de um Tyndall se comparados aos de um estudante de Física. Desenvolve no homem um comportamento direto; aquilo a que Schelling chama “uma realização da identidade do sujeito e objeto com o indivíduo”; por isso, sob a influência e o conhecimento da hypnoia o homem alimenta pensamentos divinos, vê todas as coisas como elas realmente são e, finalmente, “transforma-se num recipiente da Alma do Mundo”, para usar de uma das mais belas expressões de Emerson. “Eu, o imperfeito, adoro meu próprio Perfeito”- diz ele no seu magnífico ensaio A Super-Alma. Além desse estado psicológico, ou estado-alma, a Teosofia cultivou todos os ramos das ciências e das artes. Manteve-se completamente familiarizada com o que hoje é geralmente conhecido como Mesmerismo (hipnotismo). A Teurgia prática ou “magia cerimonial” a que o clero Católico Romano recorre tão freqüentemente nos seus exorcismos - foi desprezada pelos Teosofistas. Jâmblico foi o único que transcendendo aos demais Ecléticos acrescentou à Teosofia a doutrina da Teurgia. Quando, ignorante do verdadeiro significado dos símbolos esotéricos e divinos da Natureza o homem é levado a avaliar erroneamente os poderes de sua própria alma e, ao invés de comunicar-se espiritual e mentalmente com os seres celestiais superiores, os espíritos bons (os deuses dos Teurgistas e da escola Platônica), estará inconscientemente invocando os poderes maléficos, os poderes das trevas que vivem emboscados ao redor da humanidade - as imperecíveis e sinistras criações dos crimes e vícios humanos - e assim passa da Teurgia (magia branca) à Goecia (magia negra ou feitiçaria). No entanto, nem a magia branca nem a negra são o que a superstição popular compreende por essas expressões. A possibilidade de “invocar espíritos” de acordo com a chave de Salomão é o cúmulo da superstição e da ignorância. A pureza de atos e pensamentos é a única que nos pode levar a um intercâmbio “com os deuses” e conquistas para nós o desejado ideal. A Alquimia, encarada por muitos como uma filosofia espiritual ou como uma ciência física, pertencia aos ensinamentos da escola Teosófica.
            É um fato notável que nem Zoroastro, nem Buda, Orfeu, Pitágoras, Confúcio, Sócrates ou Amônio Saccas transmitiram à escrita seus ensinamentos. E é óbvia a razão dessa atitude. A Teosofia é uma arma de dois gumes inadequada para o ignorante ou o egoísta. Como todas as velhas filosofias tem seus adeptos entre os modernos; mas, até recentmente seus partidários eram poucos numerosos e pertencentes as mais varias seitas e opiniões. “Inteiramente especulativa e sem fundar escolas, seus adeptos exerceram silenciosa influência sobre a Filosofia; e não há dúvida de que, chegado o momento, muitas das idéias assim expostas silenciosamente podem oferecer novos rumos ao pensamento humano”. - observa Kenneth R.H. Makenzie, um místico e teosofista na sua grande e valiosa obra, The Royal Masonic Cyclopaedia (artigos sobre “A Sociedade Teosófica de Nova Iorque” e ‘A Teosofia”). Desde os dias dos filósofos do fogo os Teosofistas jamais se reuniram em sociedades porque, caçados como animais ferozes pelo clero cristão, o fato de ser conhecido como Teosofistas quase sempre equivalia, ainda há um século, a uma sentença de morte. As estatísticas mostram que num período de 150 anos nada menos de 90.000 homens e mulheres foram queimados na Europa sob a acusação de prática de feitiçaria. Na grã-Bretanha, de 1640 a 1660, isto é, em apenas vinte anos, 3.000 pessoas foram condenadas à morte acusadas de pacto com o ‘Demônio”; e foi somente no último quartel deste século - em 1875 - que alguns místicos e espíritas progressistas, insatisfeitos com as teorias e explicações do Espiritismo redigidas pelos seus adeptos, e julgando que as mesmas estavam longe de cobrir todo o campo da enorme área dos fenômenos, formavam longe de cobrir todo o campo da enorme área dos fenômenos, formaram em Nova Iorque uma associação hoje largamente conhecida como Sociedade Teosófica. Assim, tendo explicado o que é a Teosofia, pretendemos, em outro artigo, explicar a natureza de nossa Sociedade, também chamada “Fraternidade Universal da Humanidade”.

            Tradução de M. P. Moreira Filho.

domingo, 19 de agosto de 2012

Dia do MAÇON, 20 de Agosto


20 DE AGOSTO, DIA DO MAÇOM BRASILEIRO
Por vezes perguntamos. O que tem levado tantos homens, no mundo inteiro, a abraçar esta Instituição, seguir e difundir seus princípios?
Acreditamos que o motivo fundamental é porque confiamos nos principios sobre os quais ela foi construída: “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”. Crer nos ideais de buscar a perfeição e praticar a beneficência. Aperfeiçoar-se e servir.
Há a lição da irmandade. O sagrado sentimento de união entre os Irmãos, que nos traz a cada sessão e nos faz permanecer num fraterno e imorredouro abraço.
Homens de bons propósitos, perseguindo, incansavelmente, a perfeição. Homens preocupados em ser, em transcender, num preito à espiritualidade e a crença no que é bom e justo. Pregam o dever e o trabalho. Dedicam especial atenção à manutenção da família, ao bem estar da sociedade, à defesa da Pátria e o culto ao Grande Arquiteto do Universo.
Temos perfeita consciência de nosso papel social e da importante parcela de responsabilidade na missão de transformar o mundo, modificando, aprimorando as coisas que nos cercam.
Porque o dia 20 de agosto é considerado o Dia do Maçom no Brasil?
“Em setembro de 1918, o Irmão Antenor de Campos Moura, então Venerável da Loja “Fraternidade de Santos”, propunha ao Grande Oriente do Brasil a instituição do “Dia do Maçom”, que seria comemorado não só como um dia de festa, mas também como um dia de beneficência e de caridade.
Na data fixada, as Lojas de todo o Brasil deveriam realizar uma sessão que fosse Econômica, ou Magna de Iniciação, ou branca; não deveria ser exigido que se cumprisse um programa arcaico e muitas vezes despido de interesse.
Cada Loja que fizesse uma reunião como bem entendesse. Qualquer data poderia ser para o “Dia do Maçom”; a data poderia ser aquela em que esse projeto fosse aprovado.”
Posteriormente foi fixada a data de 20 de agosto, sendo aceita e comemorada por todos.
A explicação para a determinação do dia 20 de agosto baseou-se na histórica Sessão conjunta das Lojas “Comércio e Artes” e “União e Tranqüilidade”, no Rio de Janeiro, onde o Ir∴ Gonçalves Ledo pronunciara um discurso inflamado, fazendo sentir a necessidade de proclamar-se a Independência do Brasil, cuja proposição foi aprovada pelos presentes e registrada em ata no 20º dia do 6º mês maçônico do Ano da Verdadeira Luz de 5822, interpretado como se fosse o dia 20 de agosto.
Na realidade, autores referem um erro histórico, dada a utilização equivocada do calendário gregoriano, ao invés do calendário equinocial, utilizado para o registro da sessão, onde o ano se inicia no dia 21 de março, que leva a reunião para o dia 09 de setembro.
O que isso tem haver com a nossa Independência em 7 de setembro?
O 20 DE AGOSTO, DIA DO MAÇOM, foi escolhido, porque nessa data, que realmente a nação se tornou independente, por força e decisão da maçonaria.
E é uma efeméride nacional consagrada e, como tal, deve ser comemorada com toda pompa, pois a Maçonaria em muito contribuiu para a efetiva emancipação político-social do Brasil e os Maçons de um modo geral devem reverenciar seus membros responsáveis pelas idéias e as efetivas ações, mas sempre sabedores da verdade histórica.
- Esta data consta do art.179 da Constituição do Grande Oriente do Brasil e do art. 275 do Regulamento, ordenando a comemoração da data no dia 20 de agosto.
Desde 1923, encontra-se na BIBLIOTECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO, a Certidão das Atas do Grande Oriente do Brasil, de 1822, com o título DOCUMENTOS PARA A HISTÓRIA DA INDEPENDÊNCIA, VOLUME I, LISBOA – RIO DE JANEIRO, 1923 – A MAÇONARIA E A INDEPENDÊNCIA.
Neste documento, grafa quando se refere à “Ata da Sessão de 20 do 6º mês Ano 1822”, a data correspondente no calendário Gregoriano como “(9 de setembro)”.
Em 20 de agosto de 1822, foi convocada uma reunião extraordinária do Grande Oriente do Brasil por Joaquim Gonçalves Ledo , em face da ausência de José Bonifácio, Grão-Mestre que se encontrava viajando. Gonçalves Ledo seu substituto hierárquico na maçonaria brasileira, profere um eloqüente discurso, na ARLS Arte e Comércio em 20 de Agosto, onde era 1º Grande Vigilante. Expondo aos maçons presentes à necessidade de ser imediatamente proclamada a Independência do Brasil.
Por causa do discurso proferido, a proposta foi votada e aprovada por todos os presentes.
A cópia da ata dessa reunião foi encaminhada inmediatamente a D. Pedro I que se encontrava também viajando e, recebeu tal decisão às margens do riacho do Ipiranga em 7 de setembro, ocasião que o Imperador proclamou a Independência do Brasil por encontrar respaldo e mesmo determinação da maçonaria brasileira.
De qualquer maneira, vamos comemorar.
Foi também instituído, em 1994, nos Estados Unidos, o DIA INTERNACIONAL DO MAÇOM, comemorado em 22 de fevereiro, data de nascimento de GEORGE WASHINGTON, o artífice principal da independência daquele país.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Maçonaria Universal e o Templo Interior


O Templo físico, o local de reunião é, no entanto, muito mais do que apenas isso, como em quase tudo em Maçonaria, o que é aparente esconde um outro significado, que por sua vez pode revelar um terceiro.
Assim, o Templo físico é simultaneamente o local de reunião, apenas entre maçons, mas também simboliza todo o Universo. Por isso dizem os maçons que as suas dimensões vão do Ocidente ao Oriente e do Zénite (o ponto mais alto das alturas) ao Nadir (o ponto mais profundo das profundezas). Simboliza assim todo o Espaço, afinal o local onde existe e vive e trabalha e produz e evolui toda a Humanidade em geral e o maçon em particular. Tal como o maçon deve ter uma impoluta conduta dentro do Templo / local de reunião , deve mantê-la em qualquer local onde se encontre, pois, onde quer que esteja, está em local que é produto da Criação, ou seja, onde quer que o maçon se encontre, está dentro do Templo Universal criado pelo Grande Arquitecto do Universo.
Mas ainda um terceiro significado simbólico existe no Templo: este é o local físico de reunião dos maçons, simboliza todo o Universo, mas também - e principalmente - simboliza o que o maçon permanentemente deve construir: o seu próprio Templo Interior, local apto a condignamente albergar a partícula de Divindade que, se lograr descobrir a Luz, verá brilhar dentro de si.
Esse templo interior deve ser construido com base nas três colunas da maçonaria: a Sabedoria, a Força e a Beleza, pilares de sustentação do mesmo.
Por isso, nos Templos maçónicos estão, além do mais, presentes três colunas, a cada uma se atribuindo um desses significados (ver imagem).

sábado, 4 de agosto de 2012

.'.O Avental de Um Maçon.'.

Avental é a vestimenta do maçom e obrigatório é seu uso em Loja, é símbolo de trabalho na construção do templo interior e nas tarefas do aperfeiçoamento evolutivo. Feito da pele de cordeiro, símbolo de humildade e devoção, o do aprendiz tem cinco ângulos, correlaciona-se ao pentagrama = homem; o triângulo sobreposto ao quadrado é interpretado por alguns como a alma planando sobre o corpo físico, formando o número sete, que é o numero perfeito, pois Deus abençoou e amou o número sete mais do que todas as coisas sob o Seu Trono, pelo que se deduz ser o homem o sétuplo ser, a mais dileta das obras do Criador.
O avental constitui a super proteção aos chakras fundamental, esplênico e umbilical, para diminuir as influências decorrentes dos sentidos em relação ao sexo e às paixões emocionais, expondo e ativando os chakras: cardíaco, no aprimoramento dos sentimentos, laríngeo, impulsionando a criatividade, e frontal, estimulando o raciocínio. Nos antigos Mistérios o avental branco de pele de cordeiro ou linho simbolizavam a pureza de propósitos nos procedimentos em busca da realização dos ideais, sempre acompanhado por um cinto, corda ou cordão = elo de ligação, para cingi-lo ao corpo na altura dos rins. Os Essênios entendiam que a pureza interior e a retidão no agir eram notavelmente expressas pela aparência externa da pessoa, talvez baseado nesse conceito Salomão sentenciava: “Que o teu vestuário seja sempre branco”.
Afirma Pierson, em “Tradições da Franco Maçonaria”: “Todas as estátuas antigas dos deuses dos Gentios, que foram descobertas no Egito, Grécia, Pérsia, Hindustão ou América, são uniformemente ornadas com o avental. Daí podemos deduzir a antigüidade desse artigo da indumentária”. Gn.3.= número indicativo da unidade = corpo, espírito e Deus, e 7 = indica a perfeição evolutiva com a plenitude dos chakras ativados, ou seja, todos os trabalhos executados com justiça e perfeição, ativa a espiral evolutiva pelo kundalini: “Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; e coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais”; assim, 3+7=10 número da totalidade e plenitude, ou seja, o conhecimento = árvore da ciência do bem e do mal.
Entendemos que cada ser humano possui o corpo = vestimenta = avental, bem como as ferramentas necessárias = talentos para a execução dos trabalhos em cada etapa das tarefas evolutivas, nos diferentes campos de densidade e planos de vibração. Para os antigos, a parte mais importante era o cinto ou cordão com o qual cingia-se o avental, pois que ele é símbolo dos cordões: umbilical, que liga o homem à terra, o de prata, que liga o homem ao espírito, e o de ouro, que liga o espírito ao Eu Superior; ou seja, do Manto de Glória = personalidade à vestimenta de Glória e Poder = EU SOU = Luz Divina.
Gn. 3:21 “O Deus eterno fez para Adão e sua mulher túnica de pele, com as quais os vestiu”; pele, em hebraico, é “ainda não luz”, ela é a experiência das trevas que prepara e precede a luz = veste nupcial = tosão de ouro (cordeiro, símbolo da inocência, e o ouro, o da máxima espiritualidade e glorificação) = força suprema do espírito quanto à pureza da alma = o Tesouro mais precioso.
Jó, 38:3 “Cinge os teus rins, como um homem valente, eu te interrogarei e tu me instruirás”. Os Rins presidem a passagem da água para o sangue, transmutando-se para o Espírito, e a passagem do sal para o fogo, transmutando-se para a luz (“Vós sois o sal da terra” “Vós sois a luz do mundo”); têm forma de germe como os pés e as orelhas, são símbolo de força e de fragilidade, desempenham papel importante no desenvolvimento da paranormalidade, tanto no caminhar evolutivo (pés) como no escutar (orelhas) a voz do coração = intuição, eles participam da vida genital e estão na base da realização do homem no seu processo de geração de si mesmo, até o tornar-se Verbo.
Noé, ao entrar na Arca, deixa o mundo da água = dilúvio, para penetrar o do sangue; determinado por Deus ele reuniu, “em torno dos rins”, pode-se assim dizer, os animais = energias do seu ser criado para desposá-los, tornar-se ele mesmo; ele torna-se rico de seu sangue. O Verbo se faz carne, Adão é Elohim no sangue; o homem é soprado no seu NOME desde a origem, a fim de que se torne Homem e volte a Elohim, o esposo. Em Qanah = adquirir, cidade da Galiléia onde houve o milagre ou mistério da transformação da água em vinho = sangue, durante uma cerimônia de casamento = aquisição de energias = unir-se consigo mesmo = Divinas Núpcias, para depois unir-se ao universo, Cristo num primeiro momento, o da união, transforma a água em vinho, e na véspera de sua morte, na última refeição, transforma o vinho em seu sangue, o qual derramará sobre a Terra, recolocando assim em circulação no corpo do homem o sangue de Abel.
Ez.I:26-27 “Havia, semelhante a uma pedra de safira, uma espécie de trono e, bem no alto dessa espécie de trono, uma aparência de homem. Vi que ela possuía o brilho da prata dourada como se estivesse mergulhada no fogo, desde o que parecia serem os seus rins e daí para cima, ao passo que embaixo vi como que um fogo que espalhava o seu brilho em todos os sentidos...
Era a imagem da Glória de Deus”; eis a descrição do Filho do Homem que Ezequiel visualiza centrada nos rins. Wilmshurst, em sua obra The Meaning of Masonry, diz: “A Maçonaria é um sistema sacramental que, como todo sacramento, tem um aspecto externo e visível, consistente de seu cerimonial, de suas doutrinas e símbolos, que se podem ver e ouvir, e um aspecto interno, mental e espiritual, oculto sob as cerimônias, doutrinas e símbolos, que só aproveita ao maçom capaz de se valer da imaginação espiritual e de descobrir a realidade existente atrás do véu do símbolo externo”.
O avental é sobretudo símbolo de trabalho e dedicação, para transformarmo-nos de filhos de mulheres em Filhos do Homem, auxiliados pelas instruções que são ministradas a todos os Filhos da Viúva.
Antonio Luiz Morais, M.'. M.'.
ARLS Theobaldo Varoli Filho, n° 2699, G.'.O.'.S.'.P.'. - Brasil.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

.'. Nas Coisas Essenciais UNIÃO .'.

Durante toda a vida estamos a aprender, seja de forma deliberada, quando nos inscrevemos num curso, ou quando entramos em contacto com pessoas que mesmo sem ter essa intenção nos ensinam as mais diversas coisas, às vezes muito mais valiosas do que as aprendidas nos bancos das escolas.
A criança, campo fértil para o ensino e aprendizagem, vai dia a dia conhecendo o mundo que a cerca e aprende a interagir com ele, por mais inóspito que seja. Com o decorrer da idade a nossa aprendizagem vai mudando, algumas vezes aprendemos na escola, outras vezes com os mais velhos, amigos e até com estranhos.
Entretanto, algumas vezes colocamo-nos deliberadamente no caminho da aprendizagem, um desses momentos especiais é quando aceitamos ingressar na Maçonaria.
Uma pergunta que ouvi mais de uma vez foi "O que é que você ganhou ao fazer parte da maçonaria?". De facto ganhar no sentido material da expressão, nós não ganhamos nada; talvez até percamos uma vez que a ordem nos impõe algumas obrigações de ordem pecuniária. No entanto o "ganho" em fazer parte da Ordem Maçónica é justamente o ensino que recebemos diariamente, quando nos confrontamos com a moral maçónica. Os valores morais da ordem são sólidos a ponto de modificar a nossa visão do mundo.
Ao ingressar numa sociedade que tem por fim aprimorar o homem, não é possível ficar indiferente, e a primeira coisa que nos vem à mente é fazer uma autocrítica para saber por onde começar essa mudança. Qual de nós não reconhece os seus próprios defeitos, mesmo que não tenha a coragem de os admitir publicamente.
Recentemente tive a oportunidade de me reunir com alguns irmãos para tratar de assuntos de nossa Loja e em determinado momento um irmão perguntou-em se a adesão à Ordem me tinha modificado de alguma maneira. Confesso que embora no momento não tivesse dificuldade em admitir que eu tinha mudado nesse período, somente depois, pensando melhor é que pude avaliar a grandeza dessa mudança.
Apesar de ter aderido há poucos anos na instituição, os meus valores hoje são outros; quando olho para outra pessoa consigo ver para além da imagem material que essa pessoa possui. Isto não se obtém facilmente, mas com muito estudo e perseverança, hoje tomo decisões com mais tranquilidade e com melhor avaliação de todos os aspectos envolvidos. O conhecimento traz-nos a serenidade para tomar decisões, isso evidentemente não impede que erremos, mas certamente erramos menos.
A Maçonaria, dado a seu aspecto universal e ecuménico, onde convivem pessoas de todos os povos, raças e religiões, é possivelmente a única entidade com condições de realmente levar a fraternidade a todos os recantos da terra. Os seus ensinamentos atravessam a sociedade em diversos níveis, visto que temos nas nossas fileiras Irmãos de todas as classes sociais. Se isso, no entanto é um privilégio, por outro lado impõe-nos uma obrigação, pois de nada serviria uma organização com essas características se ela não tiver o poder de transformar o mundo. Hoje vemos diariamente nos meios de comunicação atrocidades sendo cometidas em várias partes do planeta, e parece que isso já não nos consegue indignar. Em que momento deixámos que isso ocorresse connosco? Como pode um pai de família ouvir com indiferença que uma criança foi molestada sexualmente dentro de sua própria casa pela pessoa que devia protegê-la, em que momento perdemos a nossa capacidade de revolta e indignação?
Onde estão os milhões de maçons espalhados pela terra, quando essas acções se perpetuam? Há pouco tempo ouvi de um eminente maçon uma frase que no primeiro momento me chocou, mas depois percebi que ele tinha a mais completa razão; dizia ele que a Maçonaria é respeitada por todos os sectores da sociedade, menos pelos próprios maçons. Ele dizia isso no sentido de que o maçon não percebe a força que tem e não age por que não acredita nos seus próprios méritos.
Nossos irmãos em outros tempos modificaram a face deste mundo, derrubaram monarquias absolutistas, intervieram decisivamente na independência de vários países, inclusive o Brasil, libertaram escravos e tornaram o mundo mais humano. E nós no conforto de nossos lares não temos a coragem de organizar uma acção que modifique esse estado de coisas em que vivemos.
A criança que hoje nasce espera receber de nós o exemplo e a sinalização do caminho a ser seguido, se o que ensinarmos for indiferença e inércia, não podemos esperar que eles aprendam coisa diversa.
A oportunidade que temos de reunirmos, regularmente num ambiente reservado, onde podemos tratar livremente de qualquer assunto, é um privilégio que não podemos desperdiçar, lembrem-se que os nossos irmãos de outrora chegaram a ser mortos simplesmente por serem maçons.
De que vale o conhecimento e o aprimoramento pessoal que adquirimos se isso não for o motor de algo maior que nós mesmos? Acredito que a solução de graves problemas estão mais próximos da solução do que nós imaginamos, basta vencermos alguns vícios, como orgulho e vaidade e unirmo-nos em torno de um objectivo comum. Já dizia o filósofo "Você pode escolher o que plantar, mas será obrigado a colher o fruto de seu trabalho"
Adaptação bastante livre de texto de Álvaro Rodriguez Perez (M M ARLS Morada do Sol 227 - Oriente de Araraquara - SP)

A lei moral e a Maçonaria


A Lei Natural é formada pelo conjunto dos Direitos inerentes a todo o ser humano. Aristóteles, Cícero, Sto. Agostinho, São Tomaz de Aquino, Hobbes, Locke, Rousseau e Kant, conceituaram e desenvolveram a Lei e o Direito Natural.
A Declaração Universal dos Direitos do Homem, votada e aprovada em 10.12.1948, forma o mais importante conjunto de Leis sobre o qual se apoia a estrutura formal do Direito Natural e da Jurisprudência Naturalista.
De inspiração maçônica, esta Declaração considera que o reconhecimento da dignidade de todos os seres humanos, bem como de seus direitos, são os fundamentos da Liberdade, da Justiça e da Paz no Mundo. São 30 Artigos cujo teor se baseia no mais puro e consagrado Direito Natural.
A Moral, do Latim More – Costumes, Usos – é a parte da Filosofia dedicada ao estudo das Leis Ideais, quando aplicadas às situações da vida e às ações humanas daí decorrentes.
A Moral só pode existir onde também existir a liberdade de decisão, onde o livre arbítrio possa ser exercido. A essência da Moral consiste em preferir tudo o que é nobre, elevado e racional. A Moral estabelece a natureza e as conseqüências do Dever. Por estar sujeito à Lei do Dever, o ser humano é um ser Moral.
Cícero, orador e escritor romano, escreveu há mais de 2.000 anos: “A Moral é uma Lei comum a todos os homens. Ela é racional, impõe-nos a virtude e nos proíbe a injustiça. É uma Lei que não pode ser impunemente transgredida ou modificada. Nem o povo, nem os legisladores, nem os magistrados têm o poder de isentar das obrigações que ela nos impõe”.
O Decálogo de Moisés forma a base moral na qual se apóia a civilização ocidental. A Moral está na base da doutrina Maçônica. Está em sua história e em seus Princípios Fundamentais.
As Constituições de Anderson dizem em seu Artigo Primeiro: “Um Maçom, por seu compromisso com a Ordem, está obrigado a obedecer à Lei Moral”.
Fiel aos princípios da Honra, do Dever, do Amor e da Solidariedade, o Maçom deve trabalhar pela felicidade da Humanidade, usando como instrumentos os princípios da Lei Natural e da Lei Moral.

Hoje, como sempre, a Maçonaria se preocupa em garantir a prevalência dos Direitos Humanos em todo o Mundo. No início do terceiro milênio da era Cristã, estamos ainda muito distantes do dia em que estes Direitos estejam assegurados a todos os componentes da sociedade Humana.
A tortura, a violência indiscriminada, as guerras étnicas e religiosas; a privação da liberdade de pensamento, da liberdade política e de opinião; a insuficiência dos serviços sociais à disposição dos miseráveis e dos excluídos;  são provas inegáveis de que o respeito aos Direitos Humanos está longe de garantir o mínimo de dignidade à vida da maioria dos habitantes da Terra.

Entre outras muitas coisas, o respeito aos Direitos Humanos requer a permanente revisão e atualização das Leis que garantem a sua observância. Neste processo, é fundamental garantir a instrução a todos os nossos Irmãos do Planeta. Só deste modo se pode levar a todos o conhecimento de seus Direitos e de seus Deveres. A incorporação deste conhecimento ao patrimônio individual e coletivo da Humanidade, se constituirá na maior garantia de respeito aos Direitos do Ser Humano.
Na defesa dos Direitos Humanos, é indispensável a ação dos organismos públicos, da Imprensa, e das entidades privadas de promoção do bem-estar social. Mas, neste processo, também é imprescindível e fundamental a ação, permanente e vigorosa, de nossa Sublime Instituição.

Rio de Janeiro, 02 de dezembro de 2003
Antonio Rocha Fadista – M.’.I.’.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Não sabe ler nem escrever: Aprendiz Maçom


Preparemos homens para a Maçonaria e não Maçonaria para os homens!
A Maçonaria não discrimina qualquer pessoa, por causa de sua opção religiosa. Nossa Ordem sabe que assim o fazendo ela se torna uma instituição de regeneração da alma humana, independentemente do credo religioso, de raças, de condições sociais de seus integrantes, numa grande confraternização em todo o mundo.
Quando alguém é proposto para Iniciação, nossa Sublime Instituição exige que a vida, passada e presente do Candidato seja levantada com zelo e cuidado, procurando descobrir se o identifica no mundo profano, pela sua autoridade moral, pela sua dignidade, pela sua decência, correcção, decoro, pontualidade nos seus compromissos, pelo seu respeito à própria família e à família de outrem, pela sua humildade e coragem, que lhe dão personalidade marcante, estado de consciência que o tornará um autêntico obreiro da paz, do amor, da solidariedade.
A Maçonaria sempre teve a estimulá-la, os objectivos e causas humanitárias, nobres e sensibilizadoras. No Brasil lutou inicialmente pela nossa Independência. Proclamada esta, voltou-se para a sua consolidação. Mais tarde passou a lutar pela abolição da escravatura elaborando praticamente, todas as Leis que pavimentaram o “13 de Maio”, com a Proibição do Tráfico, a Lei do Ventre Livre, a Lei dos Sexagenários, todas elas elaboradas e votadas sob suas influências.
Voltou-se mais tarde para a proclamação da República, tendo sido os dois primeiros ministérios, o de Deodoro e o de Floriano Peixoto formados inteiramente por Irmãos Maçons.
Hoje, a Maçonaria é Universal e os Maçons devem voltar suas preocupações para o Homem de todas as pragas. Não se limita a resolver, apenas, problemas de seus Irmãos de Loja ou de sua comunidade, mas colabora intensamente para a construção de um mundo melhor. E isto acontecerá quando tivermos Fé na grandeza de nossa missão. Quando partirmos à prática de uma Maçonaria mais abrangente, completa, onde a Fraternidade for praticada dentro e fora do Templo, onde oIrmão for tanto ou mais valorizado que o amigo profano.
Sabemos que a Maçonaria não é Instituição de Caridade. Ela praticará a Beneficência enquanto houver necessidade, mas, sua missão, pela garantia da Liberdade e da Igualdade, é dar aos homens condições decentes de vida. Assim, amanhã, quando o mundo for mais justo, a Maçonaria não perderá sua razão de ser, por não ter mais beneficência a praticar.
A Iniciação só é possível na vontade e na determinação de cada um em nascer para o mundo da verdade, da tolerância, da sabedoria, da fraternidade e do amor. A Iniciação é um redireccionamento de nosso espírito na caminhada que nos poderá tornar mais merecedores das bênçãos e da luz do Grande Arquitecto do Universo.
Quando somos Iniciados Maçons, nossa Ordem sonda nossa alma, nosso carácter, nosso coração e nossa inteligência, procurando saber se somos realmente livres. Livres de preconceitos, da preguiça de trabalhar ou de procurar a verdade. A Maçonaria não nos impõe sua verdade. Ao contrário, concita-nos a investigá-la, pois, sabiamente, nossa Instituição entende que cada um de nós procura a sua verdade pessoal.
Julga-se membro de uma corrente espiritual desejosa de fazer a todos felizes. Nesse sentido começa a observar objectivos definidos, sonhos a serem concretizados, alvos a serem atingidos, para justificar a razão de suas reuniões, basta constatar mais de perto a multidão de desamparados que agoniza, miseráveis sem sorte, sem teto, doentes e esquecidos que tropeçam e caem, gemem de dor sem a escora de alguém; o morador de rua na vastidão da noite que recebe por leito o chão de cimento frio da calçada de ninguém. Mais adiante, fila de doentes em torturante espera, implorando socorro pelo mal que os atormenta, recolhendo somente a dor que os dilacera. E os dependentes do álcool e das drogas que nem sabem explicar o mal que os consome. E nas veredas da vida, aquela multidão sem fé, sem apoio, sem nome, que em penúria implora um trocado para matar a fome. Se confiar em Deus, caríssimo Irmão, trabalhe, sirva, jamais censure o que padece.
Somos todos convidados a auxiliar quanto podemos. A conduta recomendada que apraz ao Grande Arquitecto do Universo é a caridade cheia de amor que procura o infeliz, que o reergue sem humilhá-lo. O verdadeiro Maçon se reconhece por suas obras. O valor social do homem se mede pelo grau de utilidade que ele representa na sociedade. Procuremos as oportunidades de acção que nos propiciem o prazer de auxiliar a alguém, de ajudar uma boa causa.
Consideremos todas as criaturas como irmãs. Partilhemos o sofrimento de nossos semelhantes, respeitando-lhes sempre a maneira de vida e o modo de ser. Veja que é fácil verificar que existem na nossa Ordem, inúmeras oportunidades de servir, de trabalhar.
Todos os que agem com amor, que sabem respeitar seus semelhantes e que se compadecem de seus sofrimentos, merecem o reconhecimento da Maçonaria. São verdadeiros filhos do Grande Arquitecto do Universo que vieram atestar a suprema bondade do Criador.
O verdadeiro objectivo da Maçonaria é a busca da Verdade, quer no sentido filosófico, quer no sentido religioso. Para o Maçom, a investigação da Verdade é contínua, é algo que começa com a sua entrada em Loja como Aprendiz, mas não acaba quando atingiu os Graus mais elevados.
A essência doutrinária maçónica é apoiada na razão. A razão é a “liberdade do pensamento” que elabora o conhecimento, após momentos de meditação. A Maçonaria, que é filosoficamente eclética, usa a razão com equilíbrio, aliando-a ao significado esotérico dos símbolos. O símbolo quer dizer o que conduz. É uma forma sábia de transmitir ensinamentos, levando o indivíduo ao esforço de entendê-lo por si mesmo. Por isso, sabemos que quem traz ganhaquem vem apenas buscar, perde. Se trabalharmos, merecemos um salário. (Sendo os maçons obreiros alegóricos da construção do Templo da Verdade, da Ciência e da Razão, o salário é pago por meio de novos conhecimentos que visam o aperfeiçoamento gradual do Maçom, não se tratando, pois, de salário material, mas de sua instrução iniciática). Não é por acaso que os Maçons são chamados de Obreiros.
O trabalho na Maçonaria exige maior dedicação e comprometimento de todos os que assumiram responsabilidades, impondo renúncias que muitas vezes sacrificam o convívio familiar e outras relações sociais. No entanto, é uma grande oportunidade de trabalho, crescimento espiritual e pessoal, pois, à medida que lidamos com as dificuldades que o trabalho maçónico exige, vamos estabelecendo relacionamentos cada vez mais fraternos, desenvolvendo habilidades e atitudes que nos tornam pessoas melhores e mais felizes. Não podemos deixar de levar em consideração que o cumprimento de um dever, cria a possibilidade de níveis mais altos de integração, dos quais somos os maiores beneficiados.
A Loja é simbolizada por uma Colmeia, sendo o Avental Maçónico, do labor, pois lembra que um Maçon deve ter sempre uma vida activa e laboriosa. O Maçon assíduo aos seus trabalhos é digno de receber o Salário Maçónico, como um direito a quem se faz jus. Porém, a máxima franciscana do que é dando que se recebe deve servir de norma para o maçom.
O Candidato deve ser persuadido com razões, argumentos e fatos que a Maçonaria o levará a conquistar a paz interior, para adquirir confiança em si próprio, para beneficiar sua família ante as vibrações de Paz e de Amor. Ele nunca se atreverá a usar nossa Instituição para ludibriar a quem quer que seja ou para tirar proveito pessoal imerecido de qualquer coisa. Deve ser cientificado de que somos uma grande família e que a convivência harmoniosa entre membros da Irmandade tem um papel importante na formação do Maçom.
Prestamos um juramento de modo livre, sem coação, de combatermos a ignorância, os erros, a injustiça e de glorificarmos o amor, a justiça, o direito e a verdade.
Procuremos conhecer a nossa Doutrina. Pratiquemo-la e estaremos servindo a Deus, ao homem, descortinando a Verdade e construindo a Justiça.
Respeitemos as diferenças individuais. Convençamo-nos da impossibilidade da uniformidade, mas busquemos a Unidade. Dos menores serviços comunitários aos grandes movimentos nacionais e mundiais, sempre visando o bem-estar comum, juntos estaremos em perfeito sincronismo, acreditando nos nossos ideais maiores.
Preparados interiormente provaremos que fomos, somos e seremos a força da paz e da harmonia. Na escuridão nasce a esperança de uma nova Luz na luta pelo Conhecimento, pela Solidariedade que devem ser a constante preocupação dos “homens livres e de bons costumes”.
Valdemar Sansão – M:. M:.